Os resquícios de obra tapados com um "jeitinho brasileiro" pela Fifa e pelo Comitê Organizador Local (COL), os voluntários mal informados sobre as dependências do estádio para darem orientação e a falta de comida nas cantinas e restaurantes foram exemplos de pequenos transtornos vividos pelos torcedores que foram à abertura e consequências da entrega do estádio em cima da hora.
Por outro lado, o 12 de junho no Itaquerão (como o estádio é popularmente conhecido) provou que o país já começou a "abraçar" a ideia de viver o Mundial.
Dentro e fora do estádio, as vuvuzelas ditavam o ritmo da festa, que tinha gente vestida com as mais criativas perucas e fantasias, croatas marcando presença como pontinhos vermelhos e brancos em meio a um mar de verde e principalmente amarelo, mexicanos, italianos, americanos, chilenos...todos ressaltando o caráter global do evento.
Muitas impressões foram bem positivas. "Está tudo maravilhoso. As pessoas são fantásticas, muito educadas, sempre querendo fazer de tudo para ajudar", disse à BBC Brasil o croata Richi Barbaric na saída do jogo. O mexicano Alejando Moreno contou que até "se surpreendeu" com a forma como tudo acabou funcionando tão bem.
"Tudo foi sensacional, realmente a gente ficou surpreso. Cheguei hoje e o aeroporto foi bom, aqui (estádio) foi bom, agora a gente só precisa chegar em casa e descansar."
Vários brasileiros também se disseram "surpresos" com a experiência que tiveram. "Experiência nova e organizada, até me surpreendeu", admitiu Caio Barreto após o jogo. "Desde o metrô até aqui foi tudo perfeito, tirando a lanchonete que não estava aberta quando a gente chegou, foi tudo perfeito e muito organizado", opinou Célio.
Problemas
Apesar da empolgação dos torcedores, a abertura na Arena Corinthians apresentou alguns problemas operacionais que incomodaram os torcedores durante o jogo. O principal deles foi com relação à alimentação dentro do estádio. Muitas cantinas já estavam desabastecidas quando os torcedores chegaram, ainda faltando muito tempo para começar o jogo. "Estamos sem nada de comida aqui, senhor, vai chegar em breve".
E era preciso esperar 30, 40 minutos ou mais até que os hotdogs, hambúrgueres e batatas chips chegassem novamente. E quando chegavam, a expectativa era tanta, que em pouco tempo tudo acabava novamente.
Torcedores disseram ter enfrentado filas demoradíssimas - em alguns casos, de mais de 20 minutos - para conseguir iguarias como uma pequena porção de salsichas ou pedaços de carne na chapa (em alguns casos, com farofa, se ela não tivesse acabado) por R$ 15. E, se a cerveja não faltou e podia ser obtida com mais rapidez, o preço também deixou muitos de cabelo em pé - R$ 10 por um copo de cerca de 470 mililitros de Brahma ou R$ 13 por um de Budweiser.
Segurança
"A segurança foi boa, o transporte foi excelente, mas a logística de comida realmente ficou devendo. A comida acabou antes de começar o jogo", lamentou Raquel ao final da partida.
"Ficamos no camarote hospitality, pagamos R$ 27 mil para entrar e não tinha comida, não teve a estrutura que a gente imaginava", contou Ariel.
Na própria área de imprensa, o restaurante disponível para os mais de 1,5 mil jornalistas também ficou desabastecido ainda no intervalo - boa parte deles tentou aproveitar aqueles 15 minutos para comprar algo para comer, mas acabou ficando sem nada.
Muitos torcedores também notaram os vestígios de "obra em construção" no estádio. "Eu conheci alguns estádios que estão prontos pra Copa e esse é o que eu achei menos preparado, tem algumas obras ainda espalhadas. No balanço geral foi muito bom, o estádio atendeu o que precisava, mas acho que ainda tem muita coisa que tem que ficar pronta. Esse estádio não estava pronto", comentou o baiano Silvio.
Em compensação, um ponto elogiado pela torcida presente no estádio - e até pela imprensa - foi o sinal de celular e internet. Uma das grandes preocupações antes da abertura - e que não funcionou muito bem nos dois eventos-teste que aconteceram nas últimas semanas - era justamente quanto ao funcionamento do 3G e dos celulares por conta do grande volume de gente tentando utilizar ao mesmo tempo, mas tanto na área de imprensa, quanto nas arquibancadas, o estádio conseguiu atender a demanda.
"Estava perfeito, 3G funcionou direitinho, consegui mandar whatsapp pra todo mundo", comemorou Edilson.
Clima
Nas últimas semanas, falou-se muito sobre a falta de "clima de Copa" no Brasil. O país, que sempre viveu o Mundial de uma maneira especial, desta vez com ele acontecendo em casa, parecia estar abdicando de vivê-lo. Faltavam as bandeirinhas nos carros, as ruas pintadas, as pessoas realmente a fim de ver o torneio.
Mas na véspera da abertura, tudo isso começou a mudar. No dia 11, após o treino oficial da seleção brasileira na Arena Corinthians, muitos torcedores aproveitaram para dar uma passada no estádio para conferir como ele estaria antes do primeiro jogo da Copa. Mais tarde, só pelo movimento nas principais ruas da cidade, já era possível perceber: a Copa havia chegado.
A Avenida Paulista, a Augusta, a região da Vila Madalena na zona oeste de São Paulo, ficaram repletas de gente de todos os países confraternizando ao som de vuvuzelas e caxirolas.
Na manhã do dia 12, quinta-feira, a festa continuava na Paulista, onde dezenas de turistas - muitos deles croatas, que estavam se preparando para a partida de mais tarde - celebravam a Copa na rua.
A atmosfera típica do Mundial começou a contagiar a cidade e predominou principalmente em Itaquera, na zona leste de São Paulo, a região onde o estádio foi construído com o objetivo também de trazer melhorias para o extremo da Zona Leste da cidade.
Milhares de pessoas foram ao shopping Itaquera para sentir de perto o tal "clima de Copa". Outros, que moravam ali bem perto do estádio, só que do outro lado da avenida, foram impedidos de participar da festa por não terem ingresso para passar pela zona de 2 km de bloqueio da Fifa. Ainda assim, eles aproveitaram para se reunir ali na rua mesmo fazendo sua própria festa, com churrasquinho, cerveja e pagode, bem à moda brasileira.
E do lado de dentro do estádio, o clima de paz ficou evidente nas arquibancadas, onde torcedores brasileiros e croatas se sentaram lado a lado e se divertiram juntos, sem nenhum incidente.
Apenas na saída do estádio, uma pequena confusão. Um grupo de quatro croatas, vestidos com as cores nacionais do país, subiu na encosta que circunda a Arena e decidiu urinar no gramado - sem sequer se preocupar em se esconder dos milhares de brasileiros indo para casa.
A indignação dos torcedores verde amarelos foi geral. A polícia teve que intervir para retirá-los de lá e, no fim, saíram todos às gargalhadas. Já está tendo Copa. (Fonte: BBC Brasil)
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