Mais de 50 pessoas, entre familiares, amigos e fãs se despedem do músico, um dos ícones da música sertaneja brasileira. Há fila para entrar no local.
Tinoco morreu aos 91 anos na madrugada desta sexta-feira (4) em decorrência de edema pulmonar e insuficiência cardíaca, de acordo com José Carlos, 52, seu filho e empresário. O cantor estava internado no Hospital Municipal Doutor Ignácio Proença Gouvêa, na Mooca, zona leste de São Paulo.
Segundo José Carlos, o pai passou mal e foi levado ao hospital por voltar das 14h. O médico que atendeu Tinoco acredita que ele tenha sofrido um enfarto há três dias, mas não percebeu.
O enterro aconteceu às 17h no cemitério da Vila Alpina.
REPERCUSSÃO
"A grande lição que ele deixa são os valores que ele me passou: caráter e dignidade", disse o filho José Carlos, que trabalhou com o pai durante 43 anos. "Vai ficar muita saudade, pois a nossa convivência era diária".
José Carlos contou ainda que Tinoco estava bem na quarta-feira e que faria um show em Aparecida (SP) ontem. Tinoco também era atração da oitava edição da Virada Cultural, que acontece em São Paulo neste fim de semana. O músico se apresentaria no Arouche, no palco dedicado à música romântica, às 13h do domingo (6).
O músico Uilton Antonio dos Santos, o Tinoquinho, com quem toca desde 1992, despediu-se emocionado. "Ele não nos deixou, ele se perpetuou. É um ícone da música. Cantamos por quase vinte anos juntos e foi uma honra ter gravado com ele. O que aprendi está [gravado] na minha mente e no meu coração."
O cantor Marciano, da dupla João Mineiro e Marciano, contou que Tonico e Tinoco foram uma grande inspiração. "Eles foram verdadeiros artistas, vieram do circo, então além de cantores eram atores. Tinoco, especialmente, podia contar a história mais dramática que fosse, mas fazia você dar risada no fim", lembra o sertanejo, que também perdeu o companheiro --João Mineiro morreu em março, após uma cirurgia para retirada da vesícula.
Ilson Francisco da Silva, 67, ex-radialista, que conheceu Tinoco na Rádio Tupi, também foi se despedir do colega. "Tonico e Tinoco enriqueceram nossa cultura da mesma forma que Inezita Barroso. Se alguém souber aproveitar pode pegar música deles e fazer sucesso daqui a cem anos. Ele deixa uma riqueza imensa. Deixa músicas bonitas para meus netos que estão começando a cantar".
Emocionada, Márcia Siquelli, sobrinha de Tinoco, se considera sua "filha do coração": "Eles são um exemplo de vida, sempre lutou, nunca desistiu, ele achava que nunca ia morrer. Dizia que ia trabalhar até os cem anos e aí ia descansar. Ele foi mas deixou paz e muito amor".
O filho mais velho do cantor, Élcio Perez, 66, se orgulha ao contar a história do pai e do tio. "Tonico e Tinoco foram uma das primeiras duplas sertanejos. Vieram da roça com o nome de irmãos Perez, mas disseram que uma dupla sertaneja não podia ter nome de espanhol. Aí viraram Tonico e Tinoco e fizeram sucesso", conta.
"Era uma dupla que cantava diferente. Cantava fino, como depois cantaram Chitãozinho & Xororó e Zezé di Camargo e Luciano", continua Élcio. "Suas músicas são uma paz, jovens até hoje regravam. Sobre o sertanejo universitário, ele dizia que a gente deve ver o lado bom. Dizia que não se pode falar mal de nenhuma dupla. Ele era aberto. Acima de tudo ele era família, aos filhos não mostrava os dentes, mas mostrava um caminho a seguir. Não deixou bens, morreu pobre. Ele dizia que passou o rio de dinheiro por ele, mas daí saiu uma casa para cada filho (são seis) e dizia que na roça, vivia numa casa do sapê. Então não se considerava pobre. Dizia que era um rico sem nada. E morreu feliz."
A DUPLA
José Perez, o Tinoco, formou dupla sertaneja com João Salvador Perez, o Tonico, seu irmão mais novo, nos anos 30. A parceria, no entanto, foi interrompida por uma tragédia, em 1994, quando Tonico caiu de uma escada no prédio onde morava e morreu, aos 77 anos. O último show da dupla foi realizado na cidade de Juína, no Mato Grosso, alguns meses antes do acidente, em agosto de 1994.
Tonico e Tinoco fizeram seu primeiro show profissional em 1935, como uma das primeiras duplas da cena sertaneja brasileira. Em 1943, mudaram-se para São Paulo e participaram de duversos programas de calouros no rádio. Foi na Rádio Difusora que a dupla definiu o nome artístico de Tonico e Tinoco.
Um ano depois, saiu o primeiro disco, que trouxe sucessos como "Percorrendo o Meu Brasil", "Canoeiro" e "Cana Verde".
Foram mais de mil gravações feitas por Tonico e Tinoco nos 60 anos de carreira da dupla, lançadas em 83 discos, que venderam mais de 150 milhões de cópias. A agenda dos irmãos soma 40 mil shows. Entre as canções de maior sucesso estão "Chico Mineiro", "Chalana" e "Tristeza do Jeca".
Tinoco chegou a fazer 30 apresentações após a morte de Tonico. Depois, seguiu em carreira solo. (Fonte: Folha.com)
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