Uma das pessoas mais filmadas nas arquibancadas em Sochi durante a partida entre Rússia e Croácia nas quartas de final da Copa do Mundo foi a croata Kolinda Grabar-Kitarovic. Ela chamou atenção por estar em meio a homens engravatados usando a camisa da seleção de seu país, comemorando todos os gols, com um jeito bastante despojado. Pouca gente sabia até então, mas ela é a presidente da Croácia.
Seu jeito e forma de torcer viralizaram na internet, mas o que mais chama atenção é o bom exemplo que ela passa para outros políticos. Kolinda tem 50 anos e é apaixonada por futebol, o que a levou a acompanhar todos os jogos de sua seleção no estádio, sendo que na primeira fase ela assistiu as partidas na arquibancada, junto com a torcida.
Mais do que parecer uma verdadeira torcedora, a mandatária tem chamado atenção pelo bom exemplo que passou - principalmente para muitos políticos pelo mundo (notoriamente no Brasil). Afinal, Kolinda tirou folga para poder acompanhar aos jogos in loco, e para isso, está descontando de seu próprio salário os dias não trabalhados. Além disso, as viagens foram feitas em voos comerciais, pagas com seu próprio dinheiro, assim como os ingressos para as partidas.
Primeira mulher a ser presidente da Croácia, ela não era esperada na tribuna do jogo contra a Rússia, mas foi ao ser identificada na arquibancada que recebeu o convite para acompanhar o jogo ao lado do primeiro-ministro russo, Dmitry Medvedev, e do presidente da FIFA, Gianni Infantino. Contudo, ela não conseguiu acompanhar in loco o maior feito da seleção de seu país nas Copas, pois voltou ao trabalho: na vitória por 2 a 1 contra Inglaterra na quarta-feira (11), Kolinda estava na cúpula da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) na Bélgica.
O contraste com a política brasileira é claro, principalmente diante dos casos de políticos usando dinheiro público para realizarem viagens que não são a trabalho. Recentemente, os deputados Paulo Pimenta e José Guimarães, do PT, viajaram para Curitiba para visitar o ex-presidente Lula na prisão com despesas pagas pela Câmara. Eles justificam a viagem como "Cota para o Exercício da Atividade Parlamentar". Em outubro, Rodrigo Maia viajou com uma comitiva de nove deputados para três países, tudo custeado pelo Congresso, como destacou a Folha de S. Paulo.
Apesar de não ter a mais alta das aprovações - cerca de 50% da população croata aprova o seu trabalho - Kolinda tem recebido elogios não só da imprensa internacional, mas também dos torcedores de seu país. E mesmo com todo este destaque, ela evita se exibir por estas atitudes e diz que é "normal" custear suas viagens.
Antes de se tornar presidente, ela seguiu uma carreira diplomática, sendo embaixadora da Croácia em Washington entre 2008 e 2011, além de ter sido ministra para Integração Europeia e ministra das Relações Exteriores. Ela foi eleita para comandar o país em 2015, derrotando o então presidente, Ivo Josipovic, sendo a vitoriosa com a menor diferença de votos, de apenas 1,48%, e o menor número de votos totais, 1,114 milhões.
Kolinda foi eleita pelo União Democrática Croata (HDZ), mas precisou deixar o partido após ganhar a eleição, já que na Croácia os presidentes são proibidos de serem filiados a partidos ou fazerem parte de grupos políticos. Vale lembrar que a Croácia "nasceu" em 1991, quando declarou independência da Iugoslávia, e entrou para a União Europeia apenas em 2013.
Ela é descrita como uma populista conservadora, fazendo parte da ala moderada do partido. Em temas polêmicos, ela se mostrou bem diferente do ideal conservador, declarando, por exemplo, que daria apoio caso um de seus filhos se assumisse homossexual, além de dizer que autorizaria o uso medicinal da maconha e que a decisão de fazer um aborto cabe à mulher.
Estas atitudes durante a Copa do Mundo são um ótimo exemplo que Kolinda está dando para a classe política, mostrando austeridade econômica, algo que no Brasil, por exemplo, vemos cada vez menos, como demonstrado pela pauta-bomba de R$ 100 bilhões no Congresso. A presidente croata pode ter seus problemas e defeitos no comando do país, mas é inegável que não usar dinheiro público para fins pessoais é o mínimo que deveria ser feito por qualquer político. (Fonte: Rodrigo Tolotti Umpieres/InfoMoney)
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