- Estou confortável.
- O que? Minha vida. Minha vida tem sido cheia de traumas.
- Regressão? Contar minha vida desde o útero materno?
- Porque não, né?
- Minha vida é um saco.
- Saco de pancadas !
- Mami . . . você sabe né’, mami trabalhava na zona.
- Zona?
- Que zona? Zona de meretrício.
- Você nunca foi numa zona? Você ta pensando que é zona-azul?
- Tem cara de quem nunca foi!
- O que minha mãe fazia lá?
- Ela possuía um disk chana - delivery, igual ao Macdonald’ s, Habibs.
- Você está com brincadeira comigo, esse é um assunto que eu quero esquecer, não quero falar.
- Vai me fazer bem falar?
- Você fala isso porque não conhece o problema.
- Zona pra você existe só no folclore.
- Já foi? Não acredito. Acho que você passou por perto, telefonou pra lá, assistiu na tv, etc.
- Retomando, entendeu o que mami fazia na zona?
- Eu fui gerado nesse ambiente. Ainda no útero materno, estava protegido num ambiente quente e úmido; só sofria com as contrações, pulsações e com a atividade profissional de mami.
- Que atividade?
- Tá com gozação?
- Como sofria, se estava protegido?
- Mami precisa faturar, quem sofria era o seu corpo e eu.
- Não entendeu?
- Não entendeu porque é um fdp. Sofria na hora do nheco nheco.
- O que é nheco-nheco? Porque não pergunta pra sua mãe.
- Entendeu, você parece que se diverte com a minha dor.
- Quanto tempo? 9 meses, só burro é gerado em l2 meses, é o seu caso..
- Sem agressões? Você é folgado, agride e agora está refugando.

Pausa.
Cena 2 – O nascimento.
- Nasci na própria casa da zona, onde mami trabalhava, comadre Chupetinha foi a parteira ajudada por Sheila Tala larga e Maria Angorá, e aconteceu quando ela assistia tv.
- No momento do nascimento, meus ouvidos que eram virgens foram estuprados ao ouvir o Sarney discursar em castelhano. Esse foi o meu segundo grande trauma.
- Cresci nesse ambiente, sofrendo todas as conseqüências da profissão de mami.
- A minha revolta vem daí? Não gosto de mulher por causa de mami?
- Como não gosto de mulher? Quem é você para falar isso de mim?
- Eu as trato como merecem.
- Eu sempre as tratei na porrada.
- Piloto de supositório é você e os seus.
- Porque você perguntou?
- Não sou chegado.
- O fato de eu trata-las na porrada não quer dizer que eu dou um ré no kibe.
- Não sabe o que é? Você tem cara de quem esconde o croquete.
- Bicha, baitola, veado, entendeu?
- Quer mudar de assunto?

Cena 3 – A roseira.
- Ela queria inovar.
- Trepar? Que linguagem mais chula!
- Nos estávamos amando!
- Trepando tava tua ...
- A minha namorada é psicoterapêuta sexual.
- Ela o que? Fale mais alto.
- Isso é a sua irmã. . . Respeito é bom e eu gosto.
- E eu também queria variar.
- Como fui espinhado pelo galho da roseira?
- Se eu soubesse não estava aqui.
- Acontece, que de repente eu estava nú no meio do roseiral.
- Ela?
- Ela me ajudou.
- O que você está falando?
- Claro que não foi ela.
- Tinha sim, era um sexo grupal incluindo sua família.
- Você não acredita?
- Afinal essa terapia é pra me ajudar ou não?
- Você quer me deixar grilado?
- Ora ela me abandonou por outro motivo.
- No dia estava tudo em ordem.
- Não acredita?
- Sabe, você tem cara de quem acreditou nas promessas do Lula !

José Wagner Sampaio é advogado